domingo, 23 de maio de 2010

Talvez uma Intervenção #2

Lost acaba hoje. O último episódio vai ao ar nos Estados Unidos pouco depois que terminar de escrever essa postagem, ou talvez até já esteja passando por lá, afinal será um episódio especial, super longo e que pode começar em algum horário alternativo. E além do mais não faço idéia de que horas devem ser por lá agora. Mas o fato é que depois de 6 anos a série finalmente vai acabar, e apesar disso essa postagem não vai falar de fato sobre a série. Apesar de ser uma série que eu gosto bastante e recomendo para qualquer um que tenha paciência e goste de se divertir criando teorias não vou falar sobre isso, até por que seria meio que tarde demais para fazer isso, afinal hoje vai ao ar o último episódio e depois disso os mistérios que ainda não foram resolvidos vão passar a fazer parte de um passado como eternamente não solucionados, não importando a quantidade de teorias que possam ser feitas a respeito, o que, no entanto, não deixa de ser bom, afinal é sempre bom pensar.

Mas depois disso tudo deve ficar um pouco difícil para que acreditem que esse não é um post sobre Lost, mas na verdade é, ou seja, não é sobre Lost, mas sim sobre o FIM de Lost, ou melhor, sobre o fim de várias coisas. Depois de seis anos a série conseguiu uma legião fiel de fãs, que assistem ansiosos para saber qual será a resolução final das coisas, e como toda série que atrai um culto nerd ao seu redor Lost deu bem o que falar, seja com as conversas entre amigos que todos os constantes tiveram com amigos sobre as mais assombrosas teorias ou por pessoas que simplesmente largaram toda a noção de lado e largaram emprego e família para se dedicar a desvendar os mais profundos segredos e correlações absurdas escondidos na série, e, acredite, isso realmente aconteceu com uma boa quantidade de gente.

Eu fico pensando o que diabos essas pessoas vão fazer agora, ou melhor, como alguém pode chegar nesse ponto. Sem duvida os profetas Losties vão continuar existindo e profetizando os mistérios não solucionados, de uma forma que ainda teremos que agüentá-los por pelo menos mais um tempo, mas não vão mais ser ouvidos. Para a pessoa normal a série vai ter acabado e, por mais legal que ela tenha sido não haverá mais comoção. Isso é uma boa forma de observarmos as diferentes formas que as pessoas têm de encarar o fim das coisas e do quão dependente podemos ser de algo insignificante só por que achamos que aquilo nos faz bem. E não entendam aqui insignificante no sentido pejorativo da coisa, mas sim como aquilo que não exige que seja levado a sério demais. Afinal, por que o fim da série não pode querer dizer simplesmente que teremos uma hora a mais vaga todas as semanas ou a recordação de uma coisa que você gostava de assistir, que com mais ou menos tempo transformar-se-á em uma forma de memória da infância – meu netinho, quando tinha sua idade eu via Lost – ou algo assim. Será que realmente vale a pena fazer com que algo, por mais divertido que seja, assuma na sua vida uma proporção que você não permitiria conscientemente de bom grado? Digo isso por que não acredito que as pessoas que se deixam absorver em tais matérias não o fazem com a razão mas sim com a emoção, quando percebem já estão completamente envolvidas naquilo. No prefácio do seu Picture of Dorian Gray, Oscar Wilde, um cara que definitivamente sabia de algumas coisas sobre a vida afirma: "A única desculpa para fazer uma coisa inútil é a admiração intensa que se tem por ela." O que ele completa com: "Toda arte é meio que inútil." É o tipo de coisa que te faz parar para pensar. O que distingue um artista de um cara que larga tudo para estudar um seriado condenado a acabar hoje à noite? Por que somos mais críticos com estes que com aqueles? Bem, o argumento da cultura não pode ser usado, afinal séries também são cultura, cultura pop é verdade, mas não por isso menos cultura. E o artista da fome kafkiano não seria hoje um fanático por Lost?

A diferença está justamente na capacidade de "let things go", tema de importância vital no dito seriado e que parece não ser tão fundamental na maioria dos aficionados. Mas isso partindo de um preceito que não necessariamente está correto, o de que todos os artistas são espíritos livres, que não é justificável como fica claro em uma plêiade de biografias de artistas, especialmente nas relações pessoais, mas também nos intentos muitas vezes frustrados de construir uma obra que nunca é atingida e, portanto, nunca deixada de lado. Mas nos artistas isso é paixão, nos outros - ou Others como dizem em Lost - isso é obsessão.

PS: Vocês já perceberam em como a voz do Bob Dylan mudou nos últimos discos que ele lançou? Os dois do ano passado mostram uma pessoa completamente diferente dos outros. O maior atrativo que as músicas da fase inicial do Dylan têm são as letras, mas com o envelhecimento a maldita voz dele foi mudando, passando de algo que parecia o pato Donald para um irlandês bêbado, e muitos podem me criticar, mas prefiro ela como está hoje, se bem que durante esse processo de modificação ela teve uns pontos muito bons, mas vai dizer que não é emocionante ouvir Must Be Santa com a atual voz dele.

Um comentário:

Yuri disse...

PSC: Diz a lenda que as cordas vocais do Bob ouviram o Tom Waits e acharam que seria uma boa idéia. Nunca fui de dar ouvidos a lendas, porém.