domingo, 16 de maio de 2010

Fisher, o gato

Meu nome é Fisher e sou um gato. Um gato siamês de estimação para ser mais exato. Gordo e com pelo macio, caramelo na parte superior e escuro na inferior, com os olhos verde-acinzentados e grandes, bastante curiosos. Sou um gato preguiçoso, gosto de ficar perto da lareira quando ela está acesa nos dias frios e em baixo da cama da minha dona quando também está frio mas a lareira está apagada. Dentro de casa dificilmente fica quente o suficiente para que eu precise tomar alguma providência, no máximo posso torcer para que minha dona ligue o ar condicionado no quarto dela e fico por lá, caso contrário simplesmente espero, nervoso, que o tempo melhore, afinal não gosto de água. Sou bem alimentado e raramente faço algum exercício, saí de casa pouquíssimas vezes, mesmo que apenas para ir ao quintal, não gosto de lá: muito ar e muita liberdade; estou muito bem protegido dentro de casa, obrigado. Pode parecer que não mas gatos que como eu não fazem muita coisa tem muito tempo para pensar e, na verdade, também muitas coisas sobre as quais pensar, somos filósofos. Tenho certeza que se os humanos fossem inteligentes o bastante para entender os gatos deixariam que eles pensassem e simplesmente agiriam, se bem que é mais ou menos isso que acontece, as pessoas estão sempre tão ocupadas com coisas para fazer, ou que não fizeram, ou mesmo em como viabilizar que outras coisas sejam feitas no futuro e se arrependendo das coisas que já fizeram que às vezes acho que elas não conseguem de forma alguma pensar. É tão fácil, qual o problema em simplesmente parar e pensar, perceber que as coisas não precisam de tanta turbulência, tanta agitação; pensar e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Isso é uma coisa que escuto minha dona falando bastante, aprendeu comigo, mas ela não consegue colocar isso em prática. Às vezes aparecem por aqui algumas pessoas que parecem conseguir fazer isso, mas que nada, pura farsa, olhando nos olhos deles dá pra perceber que não conseguem realmente fazê-lo, simplesmente tentam demonstrar que conseguem para tentar convencer os outros a seguir o exemplo, o que não tem sentido algum, e eles perceberiam isso rapidamente se realmente parassem para pensar.

Eu não gosto de gatos. Isso é até comum na minha espécie, um não gostar do outro, mas para mim isso tem um sentido diferente, simplesmente não gosto de gatos, eles parecem querer transparecer um conhecimento de mundo que na realidade não têm, eles sempre se acham mais espertos que os outros, sejam pessoas ou companheiros felinos. Toda aquela altivez, o jeito de exibir uma malandragem, parecem pessoas que querem parecer aquilo que na verdade não são, apesar de muitos de fato o serem, mas ainda assim essa característica é ampliada enormemente, ou você acredita que gatos são seres humildes? De forma alguma, meu caro, gatos são seres orgulhosos que andam por aí como se tivessem reis em suas barricas mas não valem os ratos que comem nos becos escuros. Mas uma coisas os gatos de rua realmente tem, eles tem liberdade, e uma liberdade que nenhum ser humano pode realmente conseguir, por mais que seja colocado à margem da sua sociedade ou desprenda-se de todas as amarras que o prendem às convenções sociais, econômicas ou ideológicas. Os gatos de rua não precisam se preocupar com isso, tais coisas não existem para eles e, contrariamente ao que ocorrem com os seres humanos, os gatos de rua não são censurados por serem o que são, não precisam se preocupar com qualquer tipo de idéia concebida por terceiros, ou seja, minha própria consideração sobre os gatos de rua não significa nada para eles, um deles nunca se sentiria elogiado ou desmerecido pelo que falei, de fato tudo isso simplesmente não existe para ele porque não tem nenhuma significância prática para o gato de rua. Mas os gatos domésticos também não são muito melhores, são tão orgulhosos quanto seus companheiros de rua, e, na verdade, tão livres quanto. Um gato não se deixa prender contra sua vontade, ele vive cativo em um lar porque é isso que ele quer, pura e simplesmente. Quando quiser ir embora ele vai e, se em caso extremo for privado de sua liberdade contra sua vontade o gato não consegue resistir, seja ele doméstico ou de rua.

Aqui, do lado da lareira ou em baixo da cama, não consigo parar de pensar em pessoas e nos problemas delas, na vida e seus dilemas, não consigo deixar de lado, nunca fui muito bom em desistir de pensar, até porque pensar é aquilo que se resta para fazer mesmo quando já se desistiu de tudo o mais. São as pequenas coisas, os detalhes que você encontra no seu dia-a-dia, às vezes dentro da sua própria casa que fazem com que você passe a perceber o mundo de formas diferentes, não são extremas a ponto de serem chamadas de epifanias, simplesmente são coisinhas que fazem com que você pare por um momento e pense sobre determinado assunto. Eu sou ótimo para achar essas pequenas coisas que me fazem pensar, e sou bom nisso simplesmente porque tento dar a tudo uma chance de me impressionar, seja positivamente ou negativamente, quando damos essas oportunidades e percebemos o resultado disso acabamos por tomar isso como um hábito. Mas sou um gato gordo e preguiçoso, para você talvez as coisas não sejam assim, meu caro, para mim pensar é fundamental mas falar não e depois de falar tanto inevitavelmente fico com sono, espero que você me perdoe, mas vou tirar um breve cochilo, boa noite.

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