quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Momentos - entreatos

Meus dias parecem estar se resumindo aos momentos em que falo com você, aos momentos em que sinto sua presença. O resto do tempo não passa de pensamentos, também sobre você, e o tédio de ver as horas se arrastarem lentamente.

A culpa é do momento, provavelmente. A culpa é da minha incapacidade de lidar com isso, e de como tudo agora me parece novo e belo, tudo que me lembre você. A culpa é das minhas décadas de solidão e de nunca ter alguém com quem pudesse falar como falo com você, falar as coisas que falo para você. É culpa da minha antiga dificuldade de me dedicar e de me envolver com as coisas, é culpa da lacuna que deixaram e que agora pareço querer preencher. É culpa da distância e do tempo, que não ajudam e não passam.

Nunca tive tanto medo. Já tive medo de falar, mas nunca medo de machucar, de perder, de estar sozinho, de voltar a ser o que um dia já fui, pouco mais que uma criança. E é nos momentos em que esse medo, junto de sua amiga e amante, a dúvida, é nos momentos em que me afligem que fecho os olhos pedindo para ter os poderes de dirigir minha vida como se dirige um filme, e fazer cortes temporais, suprimir os tempos-mortos (que existem, por mais que tentemos viver sem eles, sempre vão estar lá para nos assombrar, ainda mais alguém que já é assombrado pelo tempo e pela distancia e pela saudade). E tento pular até a próxima vez que vou te ver, ou ao menos até a próxima vez que suas palavras vão tirar de mim todo meu medo, o medo do passado, das coisas que me assombram, e 0 medo do futuro incerto.

Pois é nesses momentos que tudo parece certo, tudo parece mágico, e até mesmo eu me torno um tipo de otimista. E nessas horas tento te abraçar, mesmo que só com palavras, e nesse momento vejo o brilho dos seus olhos, mesmo os meus estando fechados. E é você, você, eternamente você, que me faz sentir melhor. E é você que me faz tentar responder, das formas que não sei se são certas, que não sei se te agradam. Você me faz sentir toda a certeza do mundo, ao mesmo tempo que me faz nada além de um menino. E todas as coisas inalcançáveis, tudo aquilo que pensei que não houvesse para mim, que cogitei até não existir, não passar de uma farsa, tudo isso parece mais próximo, tudo parece mais fácil, tudo parece possível.

Mas é rápido, rápido demais, não importa o quanto durasse, ainda assim seria rápido demais. E volto a olhar o ponteiro se mover, volto a ouvir a música de fundo, a tentar escrever e a fechar meus olhos desejando que a próxima vez chegue logo. A próxima vez que suas palavras vão me fazer sentir bem, a próxima vez que vou olhar em seus olhos. E enquanto isso tenho medo, se te machuquei, se exagerei, ou se vou fazer essas coisas da próxima vez. E enquanto isso, penso em você, penso e espero e anseio e te quero.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Bandeja Prata e Branca

Lhe sirvo em tabuleiro prata e branco
Meus versos de saudade e de sossego
Em moldes, que, por lhe desagradarem,
Os trago hoje aqui brancos, disfarçados.

Desvirtuado o cadenciar sonoro
Qual pede o verso vindo branco e preto
Prossigo a lida e marco como posso
As vãs beiradas de minha bandeja.

Sendo o versejo reto corriqueiro
(ou, pelo menos, tido como pouco)
Pergunto a mim se existe, enfim, motivo

Pra lhe servir em tábua branca e prata
Espúrios pensamentos que me atacam
E que, no fim, são só inconsequências.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Distração 1


Bem, como vocês provavelmente já sabem, estou tentando escrever um livro, mas nas horas em que não consigo me concentrar o suficiente, saem coisas como essas, distrações. Desculpem a emotividade.

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Eu preciso de um retrato seu para garantir que não vou te esquecer. Não me entenda mal, não é como se eu estivesse falando que vai ser fácil te esquecer, mas com o tempo, mesmo que pouco, mesmo que lutemos contra o esquecimento, o tempo faz com que nossas memórias mudem, que elas signifiquem para nós alguma coisa diferente da que realmente significavam para nós quando estavam próximos, quando eram reais.
Não poderia ser uma foto. Uma foto mostraria você como é de verdade, e não o que quero lembrar, como quero lembrar.
Não gosto de pensar que nunca mais vamos nos ver, até porque acredito no destino, e é impossível que o destino nos separe assim para sempre, sem nenhuma possibilidade de consolo à vista.
Ao fundo, a vastidão negra do rio, se confundindo com a noite, em tons dos mais profundos. As luzes da cidade estão lá, ao fundo, assim como as estrelas. São de um contraste lindo. Tento ao máximo captar bem aqueles detalhes, talvez evitando dar muita atenção a você, talvez simplesmente para não me embriagar, me derreter em seus olhos.
Estou muito emotivo, não posso evitar. Gostaria de dizer não saber o porque, mas talvez eu saiba. Talvez seja por sua causa. Mas não, me recuso a aceitar isso, se fosse apenas isso, não me emocionaria com coisas tão alheias a você, com coisas pequenas, com coisas tão...
Ah, não me controlo, quase sinto lágrimas nos meus olhos, coisa que dias atrás acreditaria impossível.
Mas a verdade é que medimos a relevância das coisas pelas sensações que elas nos fazem descobrir, ou redescobrir, não é mesmo?
Você está olhando para o lado, de perfil, como se ignorasse minha presença. Coisa que pode ser refutada pelo seu sorriso, pelos seus olhos.
Ah, como poderia eu captar os seus olhos? De uma forma diferente das câmeras, claro, da forma que eu os vejo, da forma que eles olham para mim. Aquelas pupilas dilatadas, enormes; e as íris, margens de suas cores, íris nas quais parecem estar escritas todas as estórias, contidas todas as estrelas, mas numa língua que não consigo entender, numa com que me ofusca.
As constelações em sua pele me dizem mais do que as que estão no céu. E enquanto estou perdido em retratá-las, você ri.
Ri do jeito que eu nunca conseguiria confundir com o de outra pessoa. É cristalino sincero, quase inocente, mas é difícil dizer, você é completo mistério. E o riso me desarma, me chama de volta de um mundo no qual estava profundamente emerso.
Deixei de lado todas as minhas outras obras, toda a arte do mundo, e agora você me choca com a realidade. Não, não a realidade. Falamos muitas besteiras, é verdade.
Volto a me concentrar, naquele momento não existo eu, não existe você, estamos distantes, só existe o que significa para mim, existe apenas uma chance, lentamente alimentada,
Seu nariz desafiador vai para a tela, e de repente, sinto que não sei mais o que fazer. Está viva, ali, como eu a imaginava.
Olho para o rio. As águas mais como um som ao fundo do que uma imagem, ondas perdidas nas sombras.
Olho a outra margem, as luzes e as estrelas. Estou só, eu e as lembranças de você, transformadas em quadro. Não sei se foi alucinação, presença ou saudade. Seria a saudade assim tão fácil, questão de tão poucos dias?