terça-feira, 25 de julho de 2017

arqueiro

o meu desajustamento
é coisa há muito predita:
numa pátria de chuteiras
que só ri se a rede agita
prefiro antes o antigol,
e o gozo que ele suscita;
os meus três heróis de infância:
yashin, taffarel, higuita

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Tigre

os homens que com ferro nos matavam
seus dentes sabres balas e feitiço
se evaporaram diante da aurora:
são tigres de papel, e já nem isso

quarta-feira, 19 de julho de 2017

arquitetura forense



cada muro é um crime
não há um muro que não seja um crime
só paredes são santas
paredes nos protegem dos lobos
dos ventos e dos resfriados
mas os muros nos protegem dos homens

e por isso são um crime
nenhum homem é o vento ou a gripe
nenhum homem é os lobos

toda prisão é um genocídio
crimes empilhados sobre crimes
muros verticais e horizontais que
separam os homens da humanidade
e do sol

toda prisão é um genocídio
toda prisão não passa de
uma caixa de muros com homens dentro

o que é o lado de dentro de um muro?

se ainda há muros
é porque estamos todos presos

segunda-feira, 17 de julho de 2017

tudo o que pela minha boca escorre
(o pouco que de minha fome escapa)
escorre, estrebucha cai e morre
cumprindo fielmente cada etapa

todo esse suicidar-se me comove
e põe meu coração desritmado
a solução melhor: olhar pro lado
cuspir palavras mais como quem chove

o pouco que me escapa e sobrevive
(um pouco moribundo e envergonhado)
se afoga no que é o mundo e seu assombro
e sofre inevitável resultado:

ser sombra e o antônimo da sombra
ser nada e o antônimo do nada