sábado, 3 de agosto de 2013

home is where the heart is

“não importa, você pode encontrar a finlandesa mais bonita de todas, e ainda assim não vai fazer diferença, você está com os  quatro pneus arriados por essa pessoa”. Foi exatamente essa a expressão que meu amigo usou, e tenho portanto de reproduzi-la, por mais brega que seja. “e, pensando bem, acho que você sempre esteve apaixonado por ela. mesmo antes de conhecê-la. não é de se espantar que, por mais que o anos passem, o jeito que você se sente permaneça sempre o mesmo”.
Eu não respondi, simplesmente olhei de volta para ele. eu adorava dar respostas inteligentes, mas não era inteligente o suficiente para fazer com que elas viessem todas as vezes. e certamente não lá pelas seis da manhã. ele tinha me levado até lá. eu não dirigia, e, mesmo que dirigisse, não estava em condições de fazê-lo. talvez também não esteja em condições de escrever ainda. descemos os dois do carro. meu amigo me abraçou, sabia que passaria ainda muito tempo até que pudéssemos nos ver novamente. nos despedimos. agradeci por toda a ajuda que me havia concedido. era um bom amigo. espero que continue a sê-lo para sempre. bons amigos são raros, mas aquilo fez com que parasse para pensar em como tive a sorte de encontrar um bom número deles. aquela fora uma noite ótima graças a essas pessoas.
nos despedimos e entrei em casa. a casa na qual morei quando ainda era apenas uma criança, a casa na qual passei quase metade de minha vida e que aprendi a amar; apesar das mudanças, apesar do tempo, foi aquela casa que me ensinou que existem coisas que sobrevivem às nossas vidas humanas. é um velho casarão colonial pernambucano que, ao menos em minha cabeça, vai existir para sempre.
fico fascinado com os tons que o mundo assume nesses momentos logo após o nascer do sol. nesse caso específico, não posso dizer com certeza se os tons se deviam ao tempo, ao sol e à hora, ou à garrafa de vinho e meia garrafa de tequila que havia acabado de beber. provavelmente um pouco dos dois. no fundo, todas as coisas são assim, nunca dependem de um único fator.
nem todas as estórias tem um fim que faça algum sentido. algumas delas são apenas fragmentos. outras são apenas um sentimento derramado na folha de papel. seria prepotência minha dizer que sei que tipo de estória é essa. acho que é só um jeito de dizer obrigado, é só uma sensação de se sentir em casa, entrar naquelas salas que eram enormes quando eu era criança, mas que continuam grandes agora que moro num apartamento minúsculo em são paulo. um texto que resumisse um pouco aquela sensação de beber café quente cedo da manhã, ouvindo o rádio-relógio de alguma casa vizinha despertar tocando uma música de forró antiga e indistinguível. é dizer que sempre vão existir coisas das quais sentir falta, por mais efêmeras que sejam. sempre vai existir algo que, dentro de nós, vamos chamar de casa. e casa pode ser um lugar, pode ser um grupo de amigos, pode ser um amor não correspondido.

Nenhum comentário: