segunda-feira, 7 de junho de 2010

Romance de Carnaval

"Fitas coloridas. Manchas alcoólicas tremulam na multidão. O samba que invade o peito não é o mesmo de outros carnavais. É uma cópia distinta que sacode, sempre sem motivo, como se fosse o primeiro ímpeto de dança que já teve em sua longa vida. Nesta tarde de festa, a colombina não saiu a exalar seu charme de mistério resolvido nos salões da vida. Foi visitar a mãe que passara mal na véspera.

A fantasia jazia apagada no armário, mas o Pierrot não derramou lágrima sequer. Depois de incontáveis tragos saiu agarrado a uma morena faceira que sambava descontraída no salão e cuja fantasia não conhecia.

O velho Arlequim já havia sumido a tempos. Pitava um cigarro em certo porto inseguro de uma cidade qualquer acompanhado agradavelmente por suas desgraças. No silêncio de um minuto de reflexão, criou uma música. Talvez um samba diferente para outros carnavais mais despreocupados.

E tudo era dança, agitação. Aquela folia gasta que envolvia os corpos e fazia com que não ouvissem nada, seja passado, presente ou futuro. Porque no fundo todos sabiam que, naquele romance de carnaval, pouco importava a fantasia."

Pelas mãos da M.A. cujos textos vocês podem achar em maior quantidade aqui. Gosto dos tons simultaneamente melancólicos e suaves que ela dá mesmo a alguns temas sobre os quais eu só conseguiria fazer estorinhas felizes e espero que vocês também gostem (e comentem por lá - ela adora comentários).

Esse texto, obviamente, se encaixa na parte da proposta do blogue sobre trazer contribuições de escritores amigos (ou enamorados, no caso específico) e me dá alguns dias para terminar de escrever o enfim não-mini-ou-meta texto para postar.