quinta-feira, 22 de setembro de 2016

teologia e teleologia

quando Deus inventou a gripe tinha ali uma finalidade clara, que nos permanece desconhecida; algo a ver com solidariedade, algo a ver com dividir, algo a ver com cuidado e autoconhecimento e limites; mas Deus perdeu seu caderno de notas, e anjo algum se importou em procurá-lo, que Sua Divina Memória prescinde de tais artifícios; e quando os homens foram procurar a sabedoria no caderno de notas de Deus, acharam apenas folhas amassadas pelo vento e deformadas pela tempestade e encolhidas pela maresia e pelos terremotos e principalmente por seus próprios olhos cansados pela gripe; e procuraram eles próprios instruções sobre a gripe e seus propósitos, mas nada parecia claro; e aos poucos foram se acabando as poucas folhas que restaram do caderninho de Deus, porque só sabiam usá-las para limpar seus narizes escorrendo; e tiveram que se virar inventando a ciência moderna e a dipirona e os analgésicos; e agora a gripe era outra, não mais a que Deus tinha inventado, e mesmo quando enfim os homens encontraram uma folha conservada do caderninho de Deus explicando a gripe, ela já não fazia mais sentido; como se as finalidades divinas se diluíssem em um mundo com dipirona.

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