Eu tenho andado sem vontade de viver, meu bem
Mas que isso não seja motivo de alarde!
Eu tenho amado somente coisas abjetas
O repulsivo é a única coisa que me encanta durante a insônia
Só me dá alegria o que há de mais degradado
Somente por essas coisas eu ainda nutro algum carinho
Eu tenho andado sem vontade de viver, meu bem
Mas ainda quero amar tanto, tanto!
O sujo, o quebrado, o inútil, o inválido
O feio
Talvez seja alguma síndrome narcísica, meu amor
Eu vejo o que há de mais podre e de mais indigesto
E consigo me amar a mim mesmo
Que me apodreço a olhos vistos
Que nenhum sistema digestório que se preze deseja deglutir
Mas quero amar isso tudo tanto, tanto!
Mesmo estando sem vontade nenhuma de viver
A vontade de amar essas coisas todas persiste
Então eu vivo.