Oi, Emannuel aqui. Algumas observações são
necessárias sobre esse texto, acho. Ele ficou grande, e provavelmente é o mais
explícito que já escrevi sobre o tema aqui no Talvez Blog. Os personagens são os
mesmos das últimas estórias que escrevi aqui, mas não é uma continuação, na
verdade é difícil dizer se acontece antes ou depois ou durante. Eu sempre
considerei a personagem feminina como sendo a protagonista, mas, por conta da
minha falta de habilidade (e mais alguns detalhes óbvios), não pude escrever a
visão dela da forma como gostaria. Também espero que a forma que o assunto é
abordado aqui não seja ofensiva para você que vai lê-lo. Acho que está bastante
suave e não-explícito, mas acho melhor avisar que é, realmente, um texto sobre
sexo. Era um texto completamente diferente e inconcluso, mas achei que ficava
bem com esses personagens.
***
Os dois estavam na cama. Já era noite, mas ainda
cedo, nenhum dos dois tinha sono, estavam simplesmente lendo, vez ou outra
fazendo algum comentário engraçado ou sarcástico. Havia sido um daqueles dias
quentes, quentes demais para dar vontade de fazer qualquer coisa além de ficar
na cama, apesar de quente demais para conseguir dormir. A noite deixara o clima
mais agradável, é verdade, mas já era tarde demais para começar a fazer alguma
coisa fora da cama, preferiram continuar ali fazendo a mesma coisa.
Ele foi o primeiro a se cansar da leitura, como
sempre. Ele amava os livros, é verdade, se perdia para o mundo externo e se
afundava completamente na estória, tanto quanto é possível que alguém faça,
algumas vezes se ligava tanto a uma estória que tinha que escrever, criar
estórias que fossem suas para tentar redescobrir a própria identidade, para
criar alguma ligação entre si mesmo e o mundo real, ou ao menos um mundo que não
fosse aquele das estórias que estava lendo. Mas o fato é que ele se cansava
(mental e oticamente) muito mais rápido que ela, apesar de reconhecer que ela
precisava de mudanças vez ou outra tanto quanto ele (ela nunca estava lendo
apenas um livro, então mudava de um para outro), talvez até mesmo mais. O fato é
que ele parou de ler e ela não. Ele ficou ali, na cama, quieto, sem querer
atrapalhar a leitura dela, simplesmente pensando. E olhando para ela de tempos
em tempos, simplesmente para apreciar a beleza da expressão séria, dos cabelos
soltos e dos centímetros –infinitos- de pele à mostra. Parecia um adolescente
tímido que se vicia em olhar para a pessoa que gosta e pensa fazer isso
furtivamente.
Ela, obviamente, percebeu, e não pode evitar um
daqueles sorrisos que eram tão característicos dela, com o rosto ficando
levemente rosado, não muito, com um pouco de malícia e um pouco de inocência.
Quando os olhos dele se encontraram com os dela, quando viu no rosto dela aquela
expressão, não pode –e não quis- controlar uma ereção. E deixou de lado o
adolescente tímido.
Ela ainda tinha o livro nas mãos e o sorriso no
rosto quando ele começou a beijar, lenta e suavemente, várias partes de seu
corpo: as pernas, ao longo dos braços, os ombros (muitas vezes), os seios (com
também suaves e lentas mordidas), a barriga, a parte interior das coxas. Até aí
cada pelo do corpo dela já estava eriçado, e começou a colocar de lado o livro
que lia. Enquanto ele finalmente chegava ao clitóris o sorriso também foi
colocado de lado e deu lugar a outra coisa.
Apenas depois disso foram se olhar nos olhos
novamente, ele aproximando seu rosto do dela aos poucos, até se beijarem. Muitos
casais teriam nojo de fazer isso, mas ela não tinha esse tipo específico de
aversão, assim como ele não tinha quando acontecia o contrário. Aquele,
provavelmente, foi o momento mais perfeito para ele, mais até do que os que
viriam a seguir, porque naquele momento – enquanto passava a senti-la por dentro
– ela mordia suavemente o lábio inferior durante o beijo molhado, os joelhos
dela se arqueavam e dobravam, embora não demais, e ele sentia as pontas dos
dedos dela pressionando suas costas, as unhas, apesar de não muito longas,
certamente deixariam marcas na pele por alguns minutos. Tudo era
suave.
Ela pressionou um dos lados e ele prontamente
entendeu. Os dois rolaram juntos na cama, ele ficando por baixo, ela por cima.
Era a posição ideal para os dois, a que mais fazia com que se sentissem bem.
Nessa posição podiam se beijar, se olhar nos olhos, sorrir um para o outro,
conversar. Conversavam naquele mesmo momento, mas falavam coisas que não cabe
aqui dizer.
As mãos dele se encaixaram nos seios dela, os
mamilos se enrijecendo enquanto acariciados entre os polegares e os indicadores.
Depois de alguns momentos e mais outros movimentos, uma das mãos dele desceu e
foi se apoiar no quadril dela, enquanto a outra subiu e trouxe o rosto para mais
perto. Ela sentiu algo de diferente naquelas mãos, viu algo de diferente
naqueles olhos; e ouviu algo de diferente quando ele sussurrou com uma voz
pausada a pergunta – ou seria um pedido? – “você me ama?”. As partes do seu
corpo que não dependiam do seu uso da razão continuaram a fazer o que estavam
fazendo, o resto, a parte de dentro, parou.
Ela precisava pensar para responder uma coisa
dessas! E naquela situação ela não iria conseguir pensar direito, não teria o
tempo necessário e não sabia por quanto tempo ele aceitaria ficar sem uma
resposta, se é que ele realmente queria uma resposta. Ela nunca se importara com
essa palavra a ponto de pensar se ela podia ser usada entre os dois, ou em
qualquer situação, se fosse ser completamente sincera. Nunca havia falado para
ninguém o que ele –aparentemente- queria que ela dissesse agora. Eram tantas as
coisas que precisavam ser pesadas e medidas, consideradas, para chegar a uma
conclusão dessas, e ela nem mesmo sabia a qual conclusão poderia chegar. Ela
tinha certo medo de que ele pudesse sentir, que ele conseguisse sentir o que ela
sentia por dentro. E ela sabia que gostava dele, gostava do que estavam fazendo
antes dele fazer essa pergunta estúpida e maliciosa. Não, ela não amava, não
sabia o que era isso, o que ele queria, não sabia o que ela própria queria. Ela
fez a mesma cara séria que fazia enquanto lia e, para que ele não percebesse, o
beijou. Ele deve ter interpretado isso como uma resposta positiva, ela pensou;
ela conseguia sentir que era isso que ele pensava. Era culpa dele se estava
interpretando isso dessa forma, ela não tinha culpa, não tinha o que fazer sobre
isso, não antes de ter tempo para pensar. E demoraria até que fosse ter tempo
para pensar.
Tentou esvaziar a cabeça dessas coisas, esquecer
isso, voltar a se concentrar nas mesmas coisas que a ocuparam a alguns segundos
atrás – isso não deveria ser tão difícil –. E conseguiu, embora apenas em parte.
Enquanto continuaram ali juntos não conseguiu mais conversar leviandades como em
geral. Conversaram através do corpo, e talvez tenham se entendido assim melhor
que de qualquer outra forma que tentassem. Mas ainda assim, quando ele
finalmente adormeceu, muito depois, continuou dentro dela. Ela não conseguiu
tirar ele de sua cabeça, e pareciam ser duas pessoas diferentes a que estava ali
com ela na cama e a que estava nos pensamentos durante a noite em claro. Ficou
quieta na cama, quase que paralisada. Se levantasse iria acordá-lo e não queria
pensar no que aconteceria se começassem a conversar naquele momento.