segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Suco Secreto

Você já deve ter tomado groselha. É um negócio gostoso, principalmente aos oito anos. Mas quando eu tinha oito anos, groselha não era groselha, pelo menos não na casa da minha avó.

Ela aparecia na sala, quando íamos jantar seu famoso arroz com franguinho, com copos cheios, dizia para os netos, de Suco Secreto. Era maravilhoso. Mais saboroso que suco de uva, sem a consistência incômoda do suco de laranja, com aquela cor bonita (principalmente contra a luz, olha, o que será que ela põe aí?). E era, sem que soubéssemos, groselha.

O neto, ao completar onze anos, dizia para nós, aprenderia com ela mesma a receita do Suco Secreto. Ah, tempo de espera cruel e dolorosa. Lá estávamos, em outro dia, sentados na sala, comendo arroz, franguinho, talvez umas batatas fritas, assistindo a algum filme que ela tivesse gravado pra gente. Ela vinha pelo corredor e chamava um de nós.

Não nos dávamos conta na hora, mas o aniversário dele tinha sido o que? Uma semana, talvez duas, atrás? Só quando eles voltavam, três cenas do filme depois, trazendo nas mãos copos de Suco Secreto para todos, é que percebíamos.

O olhar com a humildade orgulhosa dos sábios em seu rosto não nos deixava dúvida. Ao chamado de nossa avó, uma criança, ignorante dos Segredos do Suco, havia deixado a sala. Voltara para ela um Homem Completo.

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