domingo, 30 de março de 2014

Amor próprio alheio

E nesses dias tristes de cansaço
Nessas semanas de horas tão sem fim

Dessas de olhar você pra você mesma
E até você achar você ruim

Em que você só quer deitar na cama
Pra se ver longe de você enfim

Não tem lhe juro solução mais linda
Do que me dar você você pra mim

quinta-feira, 27 de março de 2014

Ritual

Acendo uma vela
Evoco nomes, invoco seres
Falo torto e errado
Uso giz, telha e sangue
Prego e pedaço de pau
Teclado e até lápis
E papel

Abro a janela
De luz apagada, luz acesa
Penso, escrevo
Canto, danço, amo
E faço o pacto de que
Mesmo que o mundo me engula
Vomitará

quinta-feira, 6 de março de 2014

A luz de um poste

A luz de um poste penetra pelas folhagens. Forma-se dela uma estrela: difusa, rala, intensa.
É na penumbra que vem abaixo, depois da grande e retalhada escuridão da copa, que eu me encontro.
Sou ao mesmo tempo repelido de seu centro mas mantido em seu halo, e sobre a influência de seus membros dourados, pressiono-me contra o chão, abandonado por mim mesmo.
Ali, a triste lembrança de um espírito pleno, um sorriso puro, inquieta-me.
Tsc.
Estala uma rebeldia, gerando forças quase suficientes para que eu desvie o olhar.
Shmm...
Quase desvio.
Hffffff...
Mergulho novamente. Mergulho nessa imagem e ela mergulha em mim.

Concentram-se noites de verões a invernos. A nostalgia lembra-me de muita coisa: mas são só imagens, e dúbias. Tudo, desde sempre, diz que sempre existe uma culpa, e ela é sempre de alguém. Talvez alguém muito especial e escondido, talvez a própria estrela e quem passa por ela. Até condenam a solidão. Porém hoje não há alguém.
Hoje imagino fotografias.
Sob a mancha de luz e na sombra, levanto-me. Levanto-me de tal imagem, levanto-me de todas as distâncias e respiro o ar de vidas e mortes. Só existe eu e as coisas, as casas, os postes.
Dou de costas, volto ao caos ordinário. Finalmente para afundar.