domingo, 20 de janeiro de 2013

Talvez uma intervenção

Você não faz ideia de como é difícil procurar por você em outras pessoas. Não sou idiota o suficiente para buscar nelas o todo daquilo que é você, isso seria impossível, é claro. Não existem duas pessoas iguais, mas me consolo em pensar que muitas possam ser parecidas. Nem poderia querer encontrar alguém que fosse exatamente igual a você, isso não me faria nenhum bem, só aumentaria minhas contradições, me faria duplamente decepcionado.

Não, o que procuro são pequenos detalhes que possam fazer com que me lembre de você, que possam fazer com que sinta como se estivéssemos juntos. Não faço isso conscientemente, deixo claro. Faço porque sou fraco, é inevitável. Escuto, por acaso, a conversa de duas pessoas. Sou observador, é isso que faço. E mesmo que não fosse, algumas palavras chegam a nós por acaso. E a palavra que chegou a mim foi o seu nome. Não consigo evitar, minha atenção é instantaneamente fisgada. Olho e percebo que é o seu nome, mas que não foi dirigido a você. A pessoa com seu nome não me fazia lembrar de você em nenhum outro aspecto. Não nos cabelos ou olhos ou nariz. E, apesar de ser errado julgar alguém assim tão sumariamente, nem de perto era tão interessante. Ainda assim, me interessava. Me interessava apenas por ter o seu nome, é verdade. Como poderia evitar? Me pus a pensar, rapidamente, que entre um beijo e outro poderia dizer o seu nome, que na cama poderia sussurrar o seu nome ao ouvido dela e ela nunca imaginaria que seria com você que eu estaria falando. Eu a estaria enganando, mas ela também enganaria a si mesma, e isso parecia tornar o pecado um pouco menor. E eu podia prever que aquilo iria saciar uma pequena parte de mim que havia sido deixada para morrer. E sempre foi essa satisfação pela metade minha sensação mais próxima da felicidade. Ao menos até você. Mas ela tinha o seu nome, a tentação era demais, tive de ir até lá.

Não foi a primeira vez. E, devo dizer, dificilmente será a última. O nome, no entanto, nunca tinha surgido antes. Existem tantos outros detalhes mais fáceis de serem encontrados, alguns tão insignificantes que precisam ser maquiados com um pouco de imaginação. Pode ser o cabelo, podem ser os olhos, pode ser simplesmente a geografia da pele. Nunca o sorriso, nunca o nariz, nunca o cheiro. É sempre decepcionante. Mas a realidade é sempre decepção. Maturidade é só uma forma de ir dessa decepção à seguinte sem desistir. É uma tentativa de lidar com as memórias. Mesmo que seja apenas fingindo que elas não estão lá. Existe, é claro, a necessidade de suprimir tudo que não é aquele detalhe. Se foi o cabelo que me levou até aquele pessoa, então é preciso ignorar a voz. As palavras podem ser os passos da dança do acasalamento humano, mas quando seus pés já conhecem a rotina o suficiente para dançarem no piloto automático é fácil desligar o cérebro. E assim as coisas se desenrolam. Não é você, mas são pequenas partes de você. Ou talvez essa seja só a desculpa que inventei para não me sentir tão culpado, tão fracassado. Provavelmente essa é a forma mais burra de se lidar com esse tipo de coisa. A chance de se ter algum tipo de redenção dessa forma é muito pequena. Veja que digo redenção, não superação ou qualquer outra palavra idiota que o valha e que seja utilizada por jovens que não sabem o que sentem. Eu sei o que sinto, como sei tudo sobre mim mesmo. Certa vez estava discutindo com você sobre o porque de gostar tanto de Murakami. Acho que foi porque os personagens dele conseguiram encontrar a si mesmo de uma forma tão assustadora, mas ainda assim continuam tão perdidos na confusão que é o mundo. Eu me identifiquei, mas para você isso só deve ter parecido um motivo para gostar menos daqueles personagens. Saber o que é, no entanto, não ajuda a descrever aquilo que sinto, sei que provavelmente não é amor a palavra certa (essa nunca é a palavra certa, especialmente comigo, especialmente com você), mas parece ser para sempre. E amor não existe, não é mesmo? É como felicidade. São coisas que só podem ser se no fim der tudo certo, mas no fim nada dá certo. Às vezes tudo que queremos é que dê errado por mais algum tempo.