segunda-feira, 19 de julho de 2010

Talvez Uma Intervenção 4 (Ou perdido na terra do Sol)

Eu detesto calor, detesto Sol. Sempre preferi os dias nublados e frios, dias cinzentos, de preferencia com alguma névoa. Absurdo parece ser então o fato que nasci num dos lugares mais quentes desse país que chamamos Brasil, o sertão nordestino. E nessas férias finalmente voltei à minha terra natal, depois de quase um ano e meio longe, morando na paulicéia desvairada. Não posso dizer que tudo foi ruim em voltar para cá, muito pelo contrário, reencontrei amigos dos quais sentia muita falta, daqueles poucos que encontramos em nossas vidas e podemos chamar de irmãos. Tive tempo para ler e reler várias coisas. No entanto outro tanto teve de ser sacrificado, como por exemplo escrever aqui no Talvez. Infelizmente não tenho instabilidade na internet por aqui. Não que esse tecnologia não tenha chegado mas porque quando se está na casa de parentes não se tem total liberdade para monopolizar o computador, mesmo que por poucas horas.
É por isso mesmo que fiz esse post, meus outros textos aqui devem atrasar um pouquinho, mas logo vou concluír a estória que vinha contando e depois, bem, o que vier depois será sabido depois.

Cuidem-se todos!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Malditas Tirinhas Invisíveis #3

Dois garotos sentados no balcão da pastelaria, cada um com um guaraná nas mãos.

- Jujuba, percebi finalmente o problema da literatura contemporânea - diz Tim - faltam aqueles bons e velhos diálogos espirituosos! Só se tem conversas bobas e inconclusivas!

Jujuba, após tomar um gole filosófico de guarana, responde:

- Pois é.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

So Real

O quarto estava em penumbra, mas ainda assim era fácil distinguir as formas. As duas portas estavam fechadas, assim como as cortinas da grande janela. A mobília era modesta: uma cama, que apesar de grande ocupava pouco do espaço total; um grande amontoado de livros, encostados em uma parede, no chão mesmo; e um pequeno móvel, com quatro gavetas, nas quais Julia presumiu que estivessem as roupas, e sobre o qual se encontravam uma máquina de escrever e uma vitrola. Logo ela percebeu que entre o amontoado de livros também estavam alguns discos.

Ele foi diretamente para a pilha e pegou um deles, colocando-o na vitrola. Era a primeira vez que levava Julia até lá. Não fazia idéia de como as coisas naquele quarto mudariam por conta dela. Eles mesmos mal se conheciam, mas de alguma forma que não precisavam explicar sentiram-se íntimos, não viram porque esperar, e, quando estavam os dois naquele quarto pela primeira vez, ambos sabiam que aquilo era certo, que de alguma forma as coisas estavam acontecendo da forma que deveriam, aconteciam da melhor forma possível. Talvez o quarto em si tivesse uma certa magia, pois se antes de chegarem ali existia alguma dúvida, algum receio que estavam se precipitando, quando as portas foram fechadas e a música tomou conta do espaço confinado, elas deixaram de existir, eram dois amantes habituados um ao outro, mas que ainda assim encontravam novidade em estarem juntos, eram dois pólos que se conheciam e se atraíam de modo selvagem.

Ela deitou-se na cama e as mãos dele foram lentamente aventurando-se pela maciez daquelas pernas, desde os pés até onde as longas pernas terminavam, ou começavam. Era difícil separar as sensações naquele momento, ao mesmo tempo tão onírico e tão real. Era impossível conectar os pensamentos, toda a propensa racionalidade humana se esvaía no contato entre a pele dos dois, não conseguiam ir muito além daquilo que sentiam no momento, e isso pouco queria dizer, até onde sabiam não existia nada além daquilo que sentiam, nada que fosse tão longe ou que fosse tão significativo. Os beijos loucos, as pequenas mordidas, mesmo os sorrisos que não eram de fato apenas maliciosos como não eram também apenas alegres. Entre uns gemidos e outros foram professadas as primeiras palavras de amor, não palavras vazias, mas juras, tão reais para ambos como tudo naqueles momentos, juramentos que não chegavam a ser inconseqüentes pois eram sinceros, que não eram elaborados, pois careciam de razão e sentido, mas que ainda assim queriam dizer muito mais que os mais belos votos de união, abarcando em poucos lampejos, poucos segundos, algo que nunca saberiam explicar, nunca conseguiriam de fato desfazer. Encaixavam-se perfeitamente, e pouco mais pode ser dito quanto a isso.

Quando a manhã já se aproximava, e as cortinas não conseguiam mais manter fora do quarto alguns grãos de claridade, transformando a penumbra que ocupara o lugar por toda a noite em algo cinzento e frio - e cortante como uma lâmina -, ainda estavam abraçados. O disco ainda girava mas a agulha já passara por toda sua extensão há muito tempo, muitas horas, algumas das quais o silêncio foi total, em outras era possível escutar pequenos ruídos, alguns sussurros, algumas palavras perdidas depois de tantas cheias de significado, se é que essa palavra se aplica a coisas tão sublimes. Estavam felizes, e, como se fossem dois adolescentes, acreditavam que aquilo que tinham encontrado de bom seria diferente de todas as coisas ruins, que aquilo que tinham durariam para sempre. E, ainda como dois adolescentes, estavam certos, mas apenas em parte.

***

Mais alguns fragmentos da estória que comecei a contar no meu post anterior. Dessa vez uma postagem bem corrida, escrita em pouco mais de meia hora, espero não ter deixado escapar nada muito importante, pois detesto revisar aquilo que escrevo. Escrita em uma madrugada em que muitas palavras ainda esperam para ser escritas, mas não aqui. Isso de fazer as coisas em pouco tempo pode ser uma forma eficaz de manter os textos em controle, impedindo que fiquem muito grandes. Em vista de algumas dúvidas deixei de lado o nome do protagonista, ao menos por esse fragmento, não fez falta nenhuma, acredito. Como podem ver essa estória não vai seguir a ordem cronológica dos acontecimentos. Espero que tenham gostado, ainda tenho algumas coisas pra falar sobre esses personagens, talvez até mesmo sobre esse quarto, então até a próxima!

"...all my riches for her smiles when I slept so soft against her"

- Lover, You should've come over; Jeff Buckley